Das casas octogonais de Orson Fowler à “Casa de amanhã”

Eliseu Gonçalves (arquitecto FAUP/PDA)

A contínua exigência social por uma habitação digna e o voluntarismo positivista da Revolução Industrial determinaram transformações na concepção do espaço doméstico que transitarão para o século XX. Evidencia-se de modo particular as modificações associadas a uma inventiva técnica gerada, em primeiro lugar, pelo clima de "eficácia produtiva" e "progresso social", próprio da industrialização oitocentista, e depois, pelas necessidades impostas pela guerra de 1914 e pela crise bolsista de 1929.
A "arquitectura da casa" será elaborada a partir de múltiplos interesses e relações onde se sublinha a bondade tecnológica da indústria, a democratização do conforto e a ideologia de um ‘homem novo’. A cadeia de acontecimentos aberta em meados do século XIX com a divulgação do livro, A Home for All or The Gravel Wall and Octagon Mode of Building New, Cheap, Convenient, Superior and Adapted to Rich and Poor, permite construir um sequência histórica que dá particular visibilidade a essas relações.
No caso estudado, a ideia de uma arquitectura possível de ser produzida em massa para garantir o acesso geral às regalias tecnológicas do mundo moderno parece encontrar no ‘panóptico’ a forma ideal da sua realização.

O texto tem como objectivo referenciar algumas dúvidas ligadas ao objecto arquitectónico enquanto artefacto técnico nas vésperas da formação do Movimento Moderno. Pretende-se alinhar um conjunto de acontecimentos que transportam para meados do século XIX as preocupações relacionadas com a industrialização da casa; problema fortemente enraízado nas preocupações do Movimento Moderno e que permanecerá constante na agenda do projecto de Arquitectura até à contemporaneidade.
Esta pequena inquirição sobre o processo de ‘democratização’ da casa e do conforto a partir da divulgação e vulgarização em larga escala de conhecimentos e produtos tecnológicos inauditos, tem a sua origem num texto anónimo singular que apareceu em 1933, na revista A Arquitectura Portuguesa, e que remete o leitor para algumas novidades patentes na exposição internacional de Chicago: A Century of Progress International Exposition. Indirectamente, o artigo conduz-nos até meados de oitocentos, despoletando uma ‘reacção em cadeia’ onde se cruzam episódios de filantropismo protagonizados por inventores, industriais, autodidactas, educadores e cientistas.

Imagem: FOWLER, O. S., Fowler’s Practical Phrenoloy, New York, Fowlers and Wells, 1840.

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